Eu nasci do tronco, silêncio cortando chão
Ouço passos que ecoam, histórias na palma da mão
Vejo correntes quebrando em tênues manhãs
Um samba sofrido, marcado por vidas irmãs
Café nas fazendas, suor misturado ao Sol
Gritos antigos ainda batem em meu anzol
Sorriso cauteloso, a esperança é navio
Rezo baixinho, pois tudo era desafio
O chão molhado, uma pá e um destino
Meu nome apagado, mas firme é o hino
A fé da quebrada trazendo calor
Progresso desenhado nos becos de dor
Do tronco ao trono, ninguém me parou
Minha pele é realeza, sangue que lutou
Meu retrato no espelho revive Zumbi
Orgulho guardado onde deixaram cicatriz
No batuque da praça, respiro e resisto
Entre becos e versos, construo o meu mito
Hoje a cidade me vê, sente o meu passo
Relógio marcando cada canto e espaço
Vou de gueto à vitória, grafite da alma
Racismo não passa quando o rap se acalma
Herança gravada, mistura urbana
O tempo é moeda no bolso de quem se dana
Na batida remixada, ancestralidade é chama
E o futuro inteiro quando a memória inflama
Do tronco ao trono, ninguém me parou
Minha pele é realeza, sangue que lutou
Meu grito ecoa, sobre as lajes, vai
Das dores antigas, sou quem faz a paz
Por cada esquina que o tempo traçou
Faço de mim um rei, onde tudo mudou
Meu som atravessa gerações e muralhas
Na pele marcada, as conquistas são falhas
De favela em festa ao prêmio laureado
Fui sonhando alto, fui respeitado
Celebrando conquistas, orgulho no olhar
Sou a semente que insiste em brotar
O jazz virou batida, a alma virou som
Do tronco ao trono, é assim que eu vou
Do tronco ao trono, ninguém me parou
Minha pele é realeza, sangue que lutou