Eu recorri tanto campo
Frente, fundo e sumidor
Segui rastro em corredor
Cruzei sanga e cancelão
Eu cansei um mansarrão
Judiei o casco na estrada
E essa rima desgarrada
Não estava em meu rincão
Fiz basteira em lombo são
Rebentei trança de laço
Pra prender algum pedaço
Do verso que disparou
E o meu pingaço rodou
No manancial da poesia
Ficou minh'alma, vazia
E essa rima não voltou
Fiz fogo grande em galpão
Pra o silêncio e seus escuros
Mas a rima que procuro
Se escondeu na solidão
Eu feri a pele das mãos
Sujeitando a tironeada
Pra ver a doma estragada
Do meu verso redomão
Eu esqueci carreira atada
E o tempo d'algum carinho
Pra seguir rumos sozinho
Penando o vago poema
Deixei saudades pequenas
Crescerem e serem mais
Que só lembranças normais
Dessa passagem terrena
Suportei peso do poncho
Molhado d'uma tormenta
Campeando a rima cinzenta
Dos meus andarengos dias
Vi chorarem alegrias
E renascerem as dores
Dos amargos interiores
Pela falta da poesia
E, assim, fui voltando às casa
Batendo estrivo, assoviando
Ao tranco, sempre esperando
Notícias vindas lindeiras
Revisei tranca em porteira
E desencilhei, sabendo
Somente achar, escrevendo
A rima que está matreira