No Tinder dei de cara com poesia
Cabelos soltos, riso de ousadia
No perfil, comunista assumida
E um olhar que já dizia: Vem pra minha vida
Conversamos com palavras bem medidas
Entre memes, confissões e despedidas
No WhatsApp a dança continuou
E cada texto nosso corpo aproximou
Foi no justo que a noite se acendeu
Dois espelhos se encarando, era só eu e eu
No reflexo dela vi meu próprio chão
Fera com fera, no mesmo sertão
Depois do bote, a fuga, o silêncio
Mas a palavra voltou no mesmo ritmo intenso
Sem o corpo, era o afeto que falava
Ela ferida, eu desarmado, e a alma se entregava
Entre filhos, vinho e confusão bonita
A gente foi criando uma escrita
Que atravessa o tempo e o desejo
Sem saber se é fogo ou se é beijo
Foi no justo que a noite se acendeu
Dois espelhos se encarando, era só eu e eu
No reflexo dela vi meu próprio chão
Fera com fera, no mesmo sertão
Eu chamei de bicho raro
Ela me chamou de espelho
Na ausência, fiz morada
No afeto, fiz conselho
Agora sei que amor também é espera
E que o meio pode ser primavera
Se for com ela, o tempo se enfeita
Mesmo que o samba ainda não tenha receita