Fui mulher em pedaços
Agora sou passo e tambor
Minha alma se move em círculos
No corpo que sabe o valor
No afoxé da alvorada
Me encontrei no girar
Toda dança que me habita
É o oriki do meu caminhar
Ewá me deu o mistério
De quem se mostra sem se expor
Quem olha pro terreiro, só vê
A mulher que Oxóssi chamou
Ele me vê de verdade
Mesmo quando eu sou nuvem no ar
Ele me caça com olhos calmos
Mas nunca me quis domar
Eu sou dança que desafia
Sou segredo e devoção
Ele chega e não invade
Só senta ao pé do meu chão
Na roda a saia gira
E me lembra quem eu sou
Não sou mais quem esperava
Sou quem canta e já chegou
Ele entende meu silêncio
Sabe a força que eu trago em mim
E no toque da cuíca
Ele sorri, e diz: Enfim
Hoje o meu corpo é estrada
E o dele é direção
Dois orixás se encontrando
Numa dança sem perdão
Se eu sou vento que perfuma
Ele é mata a respirar
Se eu sou luz que se insinua
Ele é o tempo de esperar
Se um dia alguém perguntar
Como é que se vence o fim
Diga que é preciso amar
O samba que mora em mim