Falo de amor como quem lê um manual
Tentando achar instruções em meio ao caos
Meu corpo sente antes que eu entenda
Minha mente nega, mas o peito emenda
Tenho o dom de racionalizar o abismo
Transformo dor em silogismo
E quando algo me atravessa
Eu finjo que é só vento passando depressa
Sou metades que não se escutam
Ecoando uma à outra em línguas mortas
Se choro, é por dentro – discreta, lógica
Como quem resolve uma equação torta
Sou razão demais pra sentir
Emoção demais pra fingir
Sou linha e curva
Faca e ferida
Metade viva, metade saída
Sou o nó entre o sim e o não
A eterna contradição que respira em mim
Dicotomia
Abracei o silêncio como defesa
Mas ele virou morada
E aprendi que a calma que invejam
É só anestesia disfarçada
Procuro sentido nas pausas
Mas só encontro ruído
Entre o que penso e o que calo
Sempre perco o equilíbrio
Talvez eu nunca sinta certo
Talvez sentir não tenha método
Talvez viver seja isso mesmo
Um erro que aprendeu a ter ritmo
Sou razão demais pra cair
Emoção demais pra sumir
Sou linha e curva
Faca e ferida
Metade fuga, metade guarita
Sou o nó entre o sim e o não
A eterna contradição que respira em mim
Dicotomia
Se eu te disser que não sinto
É só porque ainda não sei dar nome