Só assim se explica a história
Da divina criação
Deus havia perdido a memória
E junto com ela a razão
Só assim se explica a história
Da divina criação
Deus havia perdido a memória
E junto com ela a razão
Agora Ele procura o projeto
De toda a Sua Criação
Para excluir o que não deu certo
E causou tanta confusão
Mas como está fraco da memória
Ele não lembra onde guardou
Ou se já descartou e jogou fora
O arquivo da sua invenção
Deus devia ser um louco varrido
Ou sofrer de sonambulismo profundo
Só estando lelé é que faria sentido
Ele ter posto o homem no mundo
Num raríssimo instante de lucidez
A mulher foi o que Ele fez
De mais belo e de mais perfeito
Para ser a nossa companheira
Mas o homem, ingrato e imperfeito
A fez de objeto e a tornou prisioneira
Resumindo
Deus bebeu uma semana inteira
Sete dias e sete noites sem parar
Depois se arrependeu da besteira
De quando resolveu nos criar
Ele devia estar delirando
Na mais insana piração
Para fazer todo este bando
De humanos sem noção
Vagava em grande tormento
Quando abençoou todos nós
Agora amaldiçoa o momento
Em que nos concedeu a voz
Ele não passava nada bem
Vítima de grande sofrimento —
Teoria que justifica também
Ele nos ter dado o pensamento
Devia estar mesmo demente
Para agir com tanta insensatez
Ou sofrido um grave acidente
Que roubou Dele a lucidez
Só assim se explica a história
Da divina criação
Deus havia perdido a memória
E junto com ela a razão
Não tendo a paciência de Jó
Deus procura o Seu antigo projeto
Eliminar o homem sem dó —
E então reduzi-lo ao pó —
Será o Seu mais novo decreto
Só assim se explica a história
Da divina criação
Deus havia perdido a memória
E junto com ela a razão