Boleio a perna num verso
Do verso faço uma prece
A inspiração transparece
Num simbronaço de luz
Que este negrinho traduz
A devoção da minha raça
Que vive pedindo graças
Como a um segundo Jesus
E, como tantos, pedi
E também fui atendido
Achei os sonhos perdidos
De adelgaçados anseios
E, agora que sento arreios
No lombo desses rosilhos
É graças a ti que encilho
Negrinho do Pastoreio
Escreves por linhas tortas
De forma certa e parelha
E segue trocando orelhas
Com tantos santos sangrudos
Canonizados, fachudos
No pedestal das igrejas
Mas tu tens campo e carqueja
E o Rio Grande acima de tudo
Te quarteou outro moreno
Entre o tempo e a distância
Também crioulo de estância
Mesma alma em transparência
Mesma cor na descendência
E o mesmo gosto por potros
Encarnados um no outro
Pra sinuelar a querência
Vos agradeço, parceiros
Por esta graça alcançada
Me deste céu e estradas
E rumos a percorrer
Pingos de lida e lazer
Meus troféus de casco e crina
O bem maior da campina
Que um gaúcho pode ter!