Te vi cruzando a tarde
Com o vestido mordido do vento
Tua ausência cantava sozinha
E eu ouvia o que vinha de dentro
No barro, do lado da cerca
Risquei tua lembrança sem pressa
Deixei que a água dissesse
Se era amor ou promessa
Tua sede não tem nome
E eu não sei se sou o rio
Mas se um dia beber de mim
Cê me prova e eu te provo
Que tenho todo um mundo pra ti
Trouxe do mato um silêncio maduro
Enrolei tudo num pano lavado
Era um jeito de ver se seus olhos
Abriam para o que tava guardado
Mas tu morde o mundo tão lento
E o que sobra de ti se espalha
Guardo os bagaços da imagem no bolso
Pra reviver tudo na mente, sem falha
Tua sede não tem rumo
E eu não sei se sou caminho
Mas se tua fome me alcançar
Te dou o pão do que não vivi
E o mel do meu sonho sozinho
E se me perguntar o que era
Vou dizer
Era só terra molhada
Era só um dia qualquer
Era só tua ausência batendo em mim
Com cheiro de fruta que ninguém colheu