Am
A criança continuava perambulando por ali
F7M G6
Ora sorria e brincava, ora reclamava, chorava
Am
Ela acende a luz do quarto porque ainda tem medo do escuro
F7M G6 Am
Lais se incomoda com a menina, mas não interfere em nada
Sabe que seu alicerce se rompeu muito cedo
F7M G6
E por conta disso, ela se sente aleijada
Am
Se identifica muito com a menina porque também
F7M G6
Não teve modelos e nem referências
Dm F C9
Se sentia um ET por se achar tão estranha
G Dm
E tão diferente das outras crianças
F C9
Lais se esquece um pouco daquela garota
G D/F#
Quando de repente descobre cores e sons
Am
Mergulha fundo nesse novo mundo
E se percebe interessante
F G
Também percebe que sua boca é bonita
Am
A menina lhe chama, mas Lais não ouve
F G
Porque se distrai também com desenhos e ritmos
Am
Na sequencia grita, abre os braços e lhe pede colo
F G Am
Mas Lais nega pela primeira vez depois de muitos anos
Dm F C
Enquanto a criança esperneia, Lais esboça um assovio
G Dm
E percebe sua boca funcional e versátil
F
Já não chora mais com dó da menina
C G D/F#
Nem de si mesma e aprende a sonhar de verdade
Am
A pequena berra em desespero
F
Mas Lais a ignora
G
Já não quer mais contemplar
Am
O abismo que ela lhe mostrou
Aos poucos o desespero da menininha
F
Vai se dissipando
G Am
Assim como a melancolia de Lais
Dm F C
Ela engole o choro ao notar que Lais agora canta
G
Cantando, compreende a diferença
Dm F C
Entre o complexo de inferioridade e a humildade
G D/F#
E solta a voz, mesmo desafinando
Am
Encontra seu calcanhar de Aquiles
F
E o esconde como um atriz
G Am
Abusa do silêncio porque sabe que a boca
Tem o poder de dar a vida e a morte
F G
Aprende a acalmar a criança assustada
Am
Que agora já enfrenta o quarto escuro e cochila
F G Am
Seus lábios antes submissos agora querem beijar
Dm F C
Ansiosos, são mordidos numa fissura inédita
G Dm
Porém suas ideias ainda atropelam suas ações
F
Pobre de argumentos mas rica de sentimentos
C G
Inconscientemente imita a menina
D/F#
Num movimento de abrir os braços
Am
Pra recepcionar a população que almeja acolher
F
E insiste em querer decifrar
G
Universos que lhe tocam diariamente
Am
E se antes não degustava as pequenas guloseimas
F
Que sempre estavam disponíveis
G
Agora quer experimentar
Am
Todos os sabores que a vida pode oferecer
F G Am
Questiona suas paixões por pessoas e coisas
Dm F
Já não insiste tanto em querer dar
C
O que não tem a quem não quer
G
Como a criança não mais lhe tortura
Dm
Lais se emancipa do solo
F C
E resolve abraçar o mundo
G
Exercita o perdão como quem bebe água
Dm F
Não economiza sua resiliência
C D/F#
E saliva até com o inacessível
Am F
Enxerga sua boca como uma artista multifacetada
G
E com ela sorri, xinga, recita
Am
Canta, beija, discursa, cospe
F G Am
Cospe finalmente na cara do medo
F G Am
A criança agora dorme em paz