Em pedras assentadas
Pelo império romano
Onde pisou o Rei Sol
Um reinado desumano
Foi nesta mesma rua
Numa manhã tão fria
Um bravo índio charrua
Da morte se escondia
A cidade de Lyon
Mantinha aprisionada
Quatro vidas, quatro faces
De uma tribo destroçada
Na província cisplatina
No arroio Salsipuedes
Se fez a grande chacina
Que ninguém mais esquece
Senaqué, o pajé
Velho cacique, Vaimacá
Tacuabé, o guerreiro
Guyunusa e sua filha
Foram todos morrendo
De saudade e amargura
De um mundo que a alma
Não salva, só captura
O exército de Fructuoso
De um jeito doloroso
Matou toda coragem
Era ele, o selvagem
E a história piora, sem dó
Sem demora, quatro bravos
Para Lyon foram embora
Nas correntes dos escravos
Expostos como animais
Em palcos teatrais
Sem alma, sem chão
Longe dos ancestrais
Longe, tão longe do pampa
Longe da terra e do rio
Cavalgavam o silêncio
De quem já sucumbiu
Em meio a esta armadilha
Guyunusa, antes da morte
A Tacuabé deu sua filha
Da Bastilha fugiram ao norte
Senaqué, o pajé
Velho cacique, Vaimacá
Tacuabé, o guerreiro
Guyunusa e sua filha
Foram todos morrendo
De saudade e amargura
De um mundo que a alma
Não salva... Só captura
Tacuabé ainda cavalga
Nas infames noites de verão
Em torno de Notre-Dame
Do Triunfo e do Panteão
Os cascos do seu cavalo
Mandam faíscas pra Deus
Pra que nunca seja esquecido
Nunca mais, nenhum dos seus
Toda essa resistência
Que se tem hoje em dia
Faz parte da cultura
É gaúcha, é charrua
No pampa, nas margens do Saône
Ecoa o grito de Cabuaté
Libertad ou Liberté!
O charrua segue em pé