A voz na minha mente não dorme mais
Ela grita seu nome entre os temporais
O espelho racha, mas não me responde
Sou eu ou são mil dentro de mim?
As ruas falam, mas ninguém me escuta
No banco da praça, choro sem desculpa
Você foi embora sem fechar a porta
E o vento levou minha alma torta
Escrevi cartas pra Deus com sangue e dor
Pedi pra Ele apagar esse amor
Mas Ele me disse no sonho que veio
Filho, Eu conto cada lágrima que escorre no teu seio
Deus não se esquece de nenhuma lágrima
Que cai no silêncio, que sangra na alma
Por mais que o mundo me trate como louco
Ele me vê inteiro, mesmo em pedaços tão poucos
O teto conversa em voz monocromática
Diz que minha dor é uma arte dramática
E eu pinto nas paredes o seu rosto ausente
Com dedos feridos, num gesto doente
O tempo se arrasta, um animal ferido
Minhas lembranças, um filme invertido
O amor virou delírio, virou prisão
E a fé, um fio fino na palma da mão
Falei com os santos, dormi com os demônios
Andei entre escombros, sonhei com teus olhos
E Deus, mesmo quieto, me abraçou em silêncio
Como quem diz: Eu te entendo por dentro
Deus não se esquece de nenhuma lágrima
Que cai no escuro, que afoga e desarma
Mesmo que eu quebre, me perca no nada
Ele segura o que resta da minha jornada
Talvez o amor seja só ilusão
Ou uma febre antiga no coração
Mas se chorei por amor, em verdade e loucura
Que seja lembrado por Deus na altura
Deus não se esquece de nenhuma lágrima
Que nasce da dor, que morre na calma
Enquanto o mundo ri da minha solidão
Ele recolhe meu pranto na palma da mão