Decidiu morar dentro de si
Como quem se exila num espelho
E descobre que o reflexo não quer conversa
Achou restos de sonhos vencidos
Vazios com recibo
Lembranças em liquidação
Quis sair, mas as portas iam do nada ao nada
Como se seguir ou ficar
Fosse uma escolha simbólica
Então ficou morando num endereço sem mundo
Pagando aluguel
Com mais pleno dos silêncios que ainda devia
No espelho, agora, um portal
Reflete apenas ausência
Um eco distante de um tempo que não volta
As paredes do ser, antes, abrigo
Tornam-se prisão
Onde cada suspiro é um lamento
Uma canção sem voz
O silêncio, antes pago
Agora é dívida eterna
Um fardo pesado que a alma carrega
E no vazio do espelho a verdade se revela
O exílio é a morada
E o silêncio a única melodia