Na lida nasci, sem luxo, sem estrada
Maceta e ponteiro na mão, vida pesada
Cortando a pedra, eu fazia escultura
Mas nunca entendi a forma da ternura
Um dia ela veio, linda, rara e cara
Sorriso de Sol, beleza de joia rara
Disse que via arte no meu jeito bruto
E eu que só sabia calar, fiquei mudo
Eu que talhei coração na pedreira
Aprendi o amor na beira da soleira
Mas ela era o vento, eu era poeira
Fugiu da minha vida, levou minha bandeira
Coração de pedra, mas sente saudade
Do beijo roubado na tarde, de verdade
E cada golpe que dou nesse chão
É só pra esquecer que partiu meu coração
Voltou com perfume e vestido de festa
Mas no olhar, a mesma luz que me resta
Disse que o tempo ensinou a cuidar
Do amor simples, difícil de quebrar
Mas eu sou canteiro, não sei me explicar
Só mostro na rocha o que o peito quer gritar
Esculpi seu rosto numa pedra lavrada
E deixei no caminho da nossa estrada
Eu que talhei coração na pedreira
Aprendi o amor na beira da soleira
Mas ela era o vento, eu era poeira
Fugiu da minha vida, levou minha bandeira
Coração de pedra, mas sente saudade
Do beijo roubado na tarde, de verdade
E se um dia ela voltar pra esse chão
Vai ver que esculpi pra ela, meu coração