A ventania derrubou meu barracão
Fiquei sem morada
Estou com a vida atrapalhada
Durmo no sereno, acabo morrendo
E ninguém tem dó de mim
Pois eu não sou tão feio assim
Antigamente eu tinha tudo que queria
Sem pegar no pesado
Andava sempre endinheirado
Mas a coisa mudou
A morena se pirou
E eu fiquei arruinado
Quando eu me lembro
Daqueles tempos que eu andava alinhado
Eu fico até apaixonado
Lenço no pescoço, charumbuto na boca
Chapenguel desabado
Eu era mesmo respeitado
Calça listada, chinelo charlot, violão afinado
E a morena a meu lado que me obedecia
E vinha todo dia me trazer uns trocados
Cheguei a ser remediado
É, mas agora
Eu sou forçado a fazer cara dura
Pra defender o da gordura
Se for preciso a foice e o machado
Sou capaz de pegar
Só pra poder me endireitar
Só existe uma ferramenta pra me intimidar
E que ninguém me faz pegar
É a tal da enxada
Porque tá sempre inchada
E nunca chega a madurar
E ainda vai me enterrar no cemitério do Irajá
Eu tenho medo e não vou lá
Eu tenho mêdo é do cabo