Fui vaqueiro 20 anos
Já amansei barbatão
Minha calça era a perneira
Minha blusa era o gibão
Minha estrada era o serrado
Minha trilha era o grotão
Meu amigo era o cavalo
Minha casa era o sertão
Deitava ao pé da montanha
Pra descansar do trabalho
Na fonte eu banhava o rosto
O chão foi meu agasalho
O vento encrespava as folhas
Uma flor em cada galho
E a reis marcava o compasso
Na pancada do chocalho
Já fui guia de rebanho
No estouro da boiada
Eu arrancava do peito
Uma dolente toada
Reunia o gado todo
Mais uma vez na estrada
Só contava com descanso
No final da caminhada
Mastiguei folhas do mato
Pela cede angustiado
Pra não deixar meu trabalho
Antes de ser terminado
Recobrava as minhas forças
Com a essência do prado
E para matar minha fome
Bastava o cheiro do gado
Já fiz rede de cipó
Pra levantar reis caída
Que separada do bando
Não vinha mais pra bebida
Na sombra de um arvoredo
Dava-lhe água e comida
Numa luta contra a morte
Até salvar uma vida
Sem perder um só instante
De tudo que a vida tem
Não fiz mais porque o tempo
Não espera por ninguém
Quando vejo uma boiada
Ser tangida por alguém
Me vem recordação
Que fui vaqueiro também
Me ausentei das boiadas
Mas ainda sinto o cheiro
Do chão morno do curral
Que dorme o gado leiteiro
Mas precisando ainda passo
Campeando o dia inteiro
Porque poeira de gado
Nunca fez mal a vaqueiro
Mas precisando ainda passo
Campeando o dia inteiro
Porque poeira de gado
Nunca fez mal a vaqueiro